A
ECONOMIA
A falência do sistema econômico mundial será a principal razão para as
novas guerras.
6.
Por que fazemos guerra?
A definição clássica de Economia nos
fala de como o indivíduo e a sociedade decidem empregar recursos produtivos
escassos (terra, capital, reservas naturais, tecnologias, recursos humanos) na
produção de bens (mercadorias) e serviços de modo a distribuí-los entre as
várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades
humanas sempre ilimitadas.
Em outras palavras, um país só
encontra a equação correta para satisfazer as necessidades internas de sua
população, ao igualar o que é consumido com o que é produzido, o que é comprado
com o que é vendido. Assim, como os indivíduos e famílias, as nações são
insuficientes no que diz respeito a atender completamente as suas necessidades,
elas precisam fazer trocas de mercadorias entre si para atender ao que é
demandado.
O sistema Capitalista e até mesmo o
Socialista nunca conseguiram desfazer o nó amarrado na escassez de recursos
para produzir mercadorias; e mais, em nosso tempo, a situação fica extremamente
agravada com o aumento populacional contínuo e a concentração de pessoas nos
grandes centros urbanos. Dentro deste contexto da administração de recursos
finitos para necessidades crescentes, inevitável, portanto, o conflito, a
guerra entre os homens para resolver a questão da escassez. Em última análise,
fazemos guerras porque temos estômagos que teimam em ficar vazios e não somos
capazes de encontrar outra fórmula – ou não queremos – para dar solução a esse
problema tão antigo e aparentemente primário em nossa sociedade que se deseja
desenvolvida.
Não quero apresentar aqui um tratado
sobre a guerra, mas necessário se faz, para a compreensão deste livro, uma
breve análise histórica até avançarmos novamente aos nossos dias que, segundo Nostradamus,
guardam em si o maléfico germe que vai gerar a guerra das guerras, determinando
o fim de um tempo, a “renovação dos séculos”. Ademais, pelo que se pode sentir
saltando aos olhos em nossa história, é que a nova guerra se justifica em
outras mais antigas, quando se ressuscitam veteranas desavenças e ódios
incubados.
Vamos viajar no tempo. Estamos no
período pré-histórico, coisa de uns 10 ou 11 mil anos, quando nossos ancestrais
se utilizavam da pedra lascada para a confecção de suas armas e andavam soltos
por este mundo, ora pescando, ora coletando vegetais ou caçando. A grande
pergunta é: esses homens, que teriam a mesma constituição dos homens modernos,
faziam guerras entre si? – A resposta é não. Simplesmente porque faltava aos
povos deste período, e nos antecedentes, um dos pretextos essenciais da guerra,
a escassez de itens primários para satisfazer necessidades dos grupos humanos.
Uma vez que a escassez era percebida, os grupos simplesmente mudavam de lugar. “Nos
estágios mais primitivos da humanidade não há lutas por matérias-prima, com
exceção do caso em que o território de caça da horda é violado, caso em que a
reação é facilmente violenta e instantânea. Como outros motivos importantes
restam a ‘vendetta’ e o rapto de mulheres”. [Birket-Smith, p. 306]. Atentem que
não se afirma aqui a inexistência de um espírito violento na natureza do homem.
Pelo que foi exposto, afirma-se somente que, pelas condições “econômicas e sociais”
existentes, não havia como essa violência aflorar no que conhecemos por guerra.
Vamos mais adiante nessa viagem pela
história. Há cerca de oito ou seis mil anos, o homem parece ter se cansado de
zanzar de um lado para o outro. Ele desenvolve a agricultura e começa a
domesticar os animais. Agora o nosso ancestral é gregário, mora em aldeias,
produz excedentes que guarda em celeiros ou troca por outras mercadorias,
praticando o que chamamos de escambo. Mais tarde também se desenvolveu o padrão
de troca mercadorias, ou uma espécie de dinheiro primitivo, como por exemplo, gado
ou sal. Ora, se há propriedade, se há dinheiro, se há um líder de aldeia com
homens disponíveis para a luta, há também razões para a cobiça e, portanto,
para a guerra. Eis a guerra em seu primeiro berço: “É preciso chegar às
sociedades em que a constituição de um capital, duma maneira ou outra, é
decisiva para a indústria, para que os motivos econômicos passem a primeiro
plano. A sociedade agrícola em expansão tem necessidade de novas terras e de
escravos, de reservas frescas de mão-de-obra.” [Birket-Smith, p.306].
Avancemos mais um pouco na linha do
tempo até que topemos com as primeiras cidades, com os primeiros Estados
ocidentais. Estamos agora na Grécia em todo seu esplendor e glória. Nela,
Heródoto (485?-420 a.C) inaugura um novo tipo de literatura ao resolver contar
a trajetória da humanidade para que os homens não se apagassem no tempo.
Heródoto escreveu sobre o que se conhecia na sua época, em especial a história
dos gregos e bárbaros (os outros povos do entorno da Grécia). E já no primeiro
parágrafo, ele esclarece como seria delineada essa trajetória no seu livro
‘História’, o primeiro que levou este nome: “desejava, sobretudo, expor os
motivos que os levaram a fazer guerra uns aos outros.” [Heródoto, p. 31].
Com esse primeiro historiador, encontrou-se
uma maneira de se preservar a memória humana, porém, pelo seu lado mais torpe e
brutal. E assim se dará com os historiadores que sucederam o sábio nascido em
Halicarnasso (hoje Bodrum, Turquia). Infelizmente, a história do homem é
escrita com sangue, com as guerras sempre aumentadas em tamanho, na violência e
nos recursos tecnológicos para a destruição.
A esta altura, o primeiro espanto
nos escritos de Nostradamus nos aparece na capacidade dele antever, ainda no
século XVI, pelo menos três grandes guerras mundiais nos séculos que estavam
por vir, sendo que, historicamente, faltavam-lhe parâmetros para tal. Antes de
seu nascimento e durante parte de sua vida, o maior conflito armado registrado
no ocidente fora a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), envolvendo diretamente a
Inglaterra e a França e indiretamente Portugal e outros pequenos reinos não
constituídos em estados fortes com líderes proeminentes. Sobra-nos, portanto,
duas opções para explicar o conteúdo relativo às guerras nas Centúrias, ou Nostradamus
realmente anteviu o que lá está escrito, ou ele era um genial ficcionista, que
escreveu um épico em versos, superior a qualquer romancista ou novelista, o
maior que já pisou neste grande vale de lágrimas.
“A miséria, a peste e a guerra são
os três ingredientes mais famosos deste mundo vil”, constatou Voltaire
(1694-1778). De fato, e de acordo com o exposto, para se ter uma guerra,
ordinariamente há de se ter uma catástrofe econômica, ou perspectiva dela, o
futuro pintado com as cores da penúria e da fome, um Estado com homens
disponíveis para formar uma força guerreira, um teatro de operações bélicas e
uma personagem disposta a dirigir a tragédia. É exatamente isso que está
implícito nas profecias de Nostradamus: o egoísmo e cobiça na determinação do que
há mais bárbaro no espírito humano.
Por isso, nos capítulos seguintes,
vamos caminhar sobre a tese de que a Terceira Guerra será gerada pela somatória
de ódios de todas as guerras, anteriores e atuais; que a falta de recursos
econômicos determinam a fome e a doença; que as nações são incapazes de uma
solução pacífica à escassez; que, em momentos de crises extremas, o picadeiro
do poder fica propício para receber os piores atores e mágicos, sempre
dispostos para a guerra e que retiram de suas cartolas a ilusão de pássaros
brancos da paz.
7. A falência do sistema financeiro mundial
Passemos, agora, em definitivo, ao
estudo das Centúrias do poeta que tinha por hábito contar o futuro sem
abandonar o método de Heródoto, o historiador que usou a guerra como ponto de
partida para nos dar notícia do passado. Evidente que, por fazerem parte de uma
obra premonitória, encontramos nas Centúrias de Nostradamus algo bem complexo,
com suas quadras ganhando conotações que alcançam, por exemplo, ciências nem
pensadas em seu tempo, como a Economia.
Os gregos por meio de Aristóteles
(384-322 a.C.) cunharam o a palavra oikonomía
e quase mais nada escreveram sobre o assunto. Em Roma, não se encontrou um só
escrito notável sobre temas econômicos do Império. A obra que praticamente
funda a nova ciência só vai aparecer na Europa em 1776, “A riqueza das nações”
de Adam Smith (1723-1790); fazendo as contas, um lapso temporal de 212 anos
após a morte de Nostradamus.
O estudo sistemático e a primeira
“escola” de economistas vão surgir um pouco antes de Smith, com os fisiocratas
franceses, economistas defensores do laissez-faire
– que é a expressão máxima do liberalismo econômico até hoje e que significa, grosso
modo: o mercado capitalista deve funcionar livremente. Esses economistas
“formavam um grupo que, a partir de 1757, se reunia regularmente sob a
presidência de François Quesnay (1694-1774) para examinar problemas econômicos.
Os membros da escola escreveram livros e artigos pedindo a eliminação de
restrições, defendendo o comércio livre, e o laissez-faire”. [Huberman, p.109].
François Quesnay era um
médico-cirurgião e economista cuja crença repousava nos benefícios econômicos
ao se incentivar a produção agrícola. Para ele, somente a agricultura era
criadora de riquezas e o papel da indústria se limitava a transformar a
matéria.
Portanto, no seu tempo, se o profeta
francês quisesse saber algo relacionado a assuntos econômicos, ele certamente
teria que recorrer aos escritos medievais sobre Moral e Ética em que só eram
delineados princípios gerais de comportamento dos homens perante assuntos
relativos ao dinheiro, com os conceitos de Aristóteles de troca, e preço justo,
em São Tomás de Aquino (1225-1274). Até mesmo a condenação da usura estava
posta em termos morais, não existindo um estudo sistemático das relações
econômicas.
Não temos conhecimento se
Nostradamus teve contato com alguma obra da antiguidade ou medieval que
tratasse desses assuntos. Por ser culto e ter frequentado uma universidade, é
bem possível que sim, mas como foi adiantado, seriam informações de pouca
utilidade para quem pretendia escrever sobre o que nem existia de fato e
extremamente complexo. Lembremos também, que outros meios para se obter
informações eram praticamente inexistentes. No século XVI as “notícias”
circulavam por meio de correspondências e tentativas de jornais (alguns
manuscritos!).
Os jornais parecidos com os que
conhecemos só devem aparecer no século seguinte. “Na primeira metade do século
XVII, os jornais começaram a surgir como publicações periódicas e frequentes.
Os primeiros jornais modernos foram produtos de países da Europa ocidental,
como a Alemanha (que publicou o Avisa
Relation oder Zeitung em 1609), a França (Gazette em 1631), a Bélgica (Nieuwe
Tijdingen em 1616) e a Inglaterra (o London
Gazette, fundado em 1665, ainda hoje publicado como diário oficial do
Judiciário). Esses jornais traziam principalmente notícias da Europa e,
ocasionalmente, incluíam informações vindas da América ou Ásia. Raramente
cobriam matérias nacionais; os jornais ingleses preferiam relatar derrotas
militares sofridas pela França, enquanto os jornais franceses cobriam os mais
recentes escândalos da família real inglesa”, nos informa a Associação
Brasileira de Jornais, com base nos estudos da Associação Mundial de Jornais
(WAN).
Já demonstramos a falta de
parâmetros históricos no século XVI para “adivinhar” pelo menos três guerras
mundiais e agora vamos ilustrar outra capacidade de Nostradamus, a de trabalhar
com a Economia para elaborar seus vaticínios – e aqui não vale a brincadeira de
que os economistas modernos também fazem previsões, mas sem o mesmo grau de
acerto de Nostradamus! – Vamos começar pela quadra que prevê o fim do sistema
monetário, o pesadelo de quem muito depende do dinheiro, ou seja, de quem vive
neste mundo globalizado:
VIII.28
Les simulachres d’or et d’argent enflez,
Qu’après le rapt lac au feu furent jettez,
Au descouvert estaincts
tous et troublez,
Au marbre escripts, perscripts interjettez.
[As
representações do ouro e da prata inflacionadas, depois do voo da doce vida,
serão atiradas em um fogo em fúria; esgotados e perturbados pela dívida
pública, os papéis e as moedas serão destruídos].
Realmente, um quadro desolador para
os modernos operadores e investidores de Wall
Street, e que para qualquer contemporâneo de Nostradamus seria
inimaginável. Repetimos: no século XVI a Economia não existia como ciência ou
material de estudo sistemático. Na época de Nostradamus os bancos – firmas
comerciais que paralelamente desempenhavam algumas funções bancárias – já
operavam e as mercadorias eram trocadas por meio do uso da moeda metálica.
Somente em 1661, pelo Banco de Estocolmo e depois em 1698, pelo Banco da
Inglaterra, é que se difundiu o uso da moeda fiduciária, uma espécie de vale ou
moeda de confiança. “Entregava-se aos depositantes uma promessa de pagamento a
qualquer tempo, que seria reembolsada ao seu portador, permitindo assim que ela
fosse transferida sem nenhuma formalidade, dinamizando a circulação. Emitidas
por bancos fortes, de credibilidade, tais moedas supriram em parte a escassez
metálica.” [Franco Júnior & Chacon, p. 108].
Os instrumentos de crédito, como as
letras de câmbio também já existiam à época de Nostradamus, porém o seu uso só
foi difundido a partir do século XVI com a prática do endosso, inovação dos
bancos italianos. Depois de passados 44 anos da morte de Nostradamus é que
aparece a primeira bolsa de valores, em 1610, com a fundação da Bolsa de
Amsterdã. “Em 1621, com a criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais,
suas ações foram lançadas na bolsa, desencadeando uma onda de especulação e
dando origem à moderna técnica bolsista. A Bolsa de Londres, por sua vez, só
passou a ter um volume considerável de negócios a partir de 1666 com o
florescimento da Companhia Inglesa das Índias Ocidentais.” [Franco Júnior &
Chacon, p. 109].
Retornemos novamente à quadra em
questão. Vamos analisá-la verso por verso, e somente ela, até mesmo para que se
demonstrem os vários métodos de tradução e interpretação.
No primeiro verso, Les simulachres d’or et d’argent enflez,
encontramos uma das dificuldades linguísticas das Centúrias e que geralmente
leva os seus tradutores e intérpretes ao erro e consequente fracasso, o uso de
palavras do latim misturadas ao francês provençal. O substantivo francês simulagre deriva do nome latino neutro simulacrum e que no português significa
imagem, imitação, estátua, ou simulacro. Essa palavra também tem parentesco,
pela raiz, com o advérbio latino simulate,
fingimento; com os substantivos simulamen,
imitação, e simulatio, fingimento,
disfarce; com o verbo simulare,
representar, imitar, fingir, simular.
Depois temos os metais. Or é ouro, o metal, ou grande riqueza,
opulência. Argent é prata, dinheiro,
riquezas, bens, tesouro. E por último, o verbo francês enfler tem por significado encher, inflar, encher de vento. Logo,
uma das possíveis traduções desse verso é: “As imitações inflacionadas do ouro
e do dinheiro”... Notem que temos um exemplo claro de que a sintaxe de
Nostradamus é latina, ou seja, ele escrevia como os latinos, que naturalmente
costumavam colocar o verbo no final da frase, depois do sujeito, objetos
diretos, indiretos e outros integrantes da oração. É assim: se em português
falamos “A rainha veio do castelo”, em latim, essa frase seria construída “A
rainha do castelo veio” ou “Do castelo a rainha veio”.
No segundo verso, Qu’après le rapt lac au feu furent jettez,
não encontramos grandes complicações, somente a palavra lac, nome latino que significa leite em português, mas que em francês,
com a mesma grafia, é lago. Na mitologia, Lactans
era a deidade romana que garantia a formação do leite na espiga do trigo jovem,
por isso a relação do leite com a abundância e símbolo da doçura. Fuerins é latim: furioso. Uma tradução
possível com certa liberdade poética para este verso é: “depois do voo da doce
vida, serão atiradas em um fogo em fúria”. Esta é a versão aceita por
Fontbrune, um dos melhores intérpretes de Nostradamus.
No terceiro verso temos: Au descouvert estaincts tous et troublez.
De acordo com Fontbrune, a palavra descouvert
deve ser lida como découvert (descoberto), hoje, empregada com o significado de
déficit da balança de pagamentos. Logo, a versão sugerida: “esgotados e
perturbados pela dívida pública”.
Au
marbre escripts, perscripts interjettez é o último
verso a ser analisado. Na época de Nostradamus, os alquimistas usavam peças de
mármore (marbre) ou almofariz para
pulverizar substâncias sólidas – os químicos modernos ainda usam esse
artifício; perscribo, latim, é “escrever
por inteiro”, mas nos negócios tinha por significado: “pagar com letras, ou com
papel, aos credores”. Assim, a versão fica: “os papéis (moeda) serão
destruídos”.
Porém, o autor inglês Mario Reading,
numa edição portuguesa (2011) de suas interpretações de Nostradamus, apresenta
um texto em francês atualizado:
VIII.28
Les simulachres d’or et
argent enflez,
Q’apres le rapt au lac
furent gettez
Au Desouvert estaincts
tous et troublez.
Au marbre escript prescripz intergetez.
[Falsas
versões de ouro e prata se multiplicam/ De tal forma que depois do sequestro
elas serão jogadas dentro do lago/ Na sua redescoberta, a exaustão e os
problemas globais/ Todas as dívidas são canceladas].
Notem que há divergências entre os
tradutores em algumas palavras. Mas mesmo assim, eles conseguem chegar a
descrições semelhantes, principalmente quanto ao conteúdo principal da quadra:
uma grande desgraça econômica a atingir o mundo. Ou seja, por beberem na mesma
fonte, as traduções geralmente são muito parecidas – raramente se distanciam do
escrito original de Nostradamus – o problema está na versão que se dá ao
narrado e na interpretação do tradutor ao evento histórico. Em geral, a obra de
Nostradamus encontra-se bem traduzida nos livros atuais, entretanto observamos
em alguns autores deficiências na análise dos fatos dentro do contexto em que
eles acontecem, com o místico e o mágico prevalecendo sobre a realidade.
Feitas as observações, tornemos à
interpretação da quadra citada. A priori,
delas afloram duas conclusões incontestáveis: primeira, os versos tratam da
falência de um sistema econômico; segunda, temos notícias de crises financeiras
semelhantes, mas não temos notícias de crise que tenha demolido todo o sistema
monetário como sugerem essa quadra e outras que vamos mostrar. Portanto, temos
algo a se realizar.
Agora, nos agarremos de novo à
história para situar este prognóstico no seu tempo devido, que é o futuro,
próximo ou distante, mas o futuro. Olhando para outros séculos e para nossos
dias, é fácil ver que o mundo já passou por várias crises econômicas, sendo que
a mais forte delas (1929) determinou a Segunda Guerra Mundial, a maior que já
travamos. O importante aqui é observar que as crises econômicas estão cada vez
mais constantes e acontecem em intervalos de tempo relativamente curtos.
Depois da queda do Império Romano do
Ocidente (476 a.D), a primeira dessas crises econômicas aconteceu nos séculos
anteriores a Nostradamus, ainda na Baixa Idade Média. Certamente, ela não foi
notada como tal, pois como foi adiantado, nesta época não havia um estudo
sistemático de Economia. Essa crise, que teve seu ápice nos séculos XIV e XV,
nasceu em decorrência das crises agrária (solos esgotados, condições climáticas
desfavoráveis), demográfica (fome e peste reduziu a população) e monetária
(altos impostos para financiar guerras, endividamento, retração do poder
aquisitivo da população, manipulação e desvalorização da moeda).
É evidente que Nostradamus sentiu
alguns dos efeitos da transformação pela qual a Europa passava. Porém, nos
faltam elementos para afirmar se ele tinha o conhecimento de suas causas e
desdobramentos; se ele leu alguma obra desaparecida na noite do tempo tratando
desse assunto; e, em caso afirmativo, se a obra serviu para o profeta fazer
seus prognósticos sobre um período tão distante de sua época.
A única miséria econômica que
Nostradamus podia notar estava nas ruas das cidades da Europa – certamente sem
precisar consultar as estrelas, oráculos, ou livros. O povo vivia numa miséria
sem tamanho. “Os dados sobre o número de mendigos nos séculos XVI e XVII são
surpreendentes, Um quarto da população de Paris na década de 1630 era
constituído de mendigos, e nos distritos rurais seu número era igualmente
grande.” [Huberman, 75].
Por enquanto, guardemos o que diz
esta quadra que acabamos de estudar. Ela vai ser muito importante para a
interpretação do quadro econômico situado por Nostradamus naquilo que seria a
Terceira Grande Guerra.
8. A primeira grande guerra do século XX
Creio que a chave da leitura de Nostradamus
está em se considerar mais de uma quadra para a interpretação de determinado
assunto. O método consiste em reuni-las por temas. Por essa causa, apresento as
quadras selecionadas sobre problemas econômicos e que complementam este estudo.
A lógica científica nos mostra que
sem premissas é impossível inferir ou deduzir e por fim concluir. A pergunta
que grita neste momento: como escrever várias vezes sobre algo que nunca
aconteceu antes? – Nostradamus fez exatamente isso, “deduziu” fatos posteriores
sem os seus antecedentes! Essa é a “mágica” que a ciência vê com olhos do
desprezo e por isso ignora solenemente as premonições. Vamos verificar esse
fenômeno daqui por diante e já nesse primeiro exemplo: Nostradamus prevê a
guerra gerada pela crise econômica que atinge o Ocidente entre os anos de 1870
e 1914, denominada pelos economistas com a Primeira Grande Depressão:
VII.25
Par guerre longue l’exercite expuiser
Que pour soldats ne trouveront pecune:
Lieu d’or, d’argent, cuir on viendra cuser,
Gaulois aerain, signe croissant de Lune.
[Por uma
longa guerra, o exército sofrerá tantas perdas, que não haverá dinheiro para os
soldados. O couro será usado em lugar do ouro e do dinheiro; a moeda francesa
terá a forma da lua crescente].
A Primeira Grande Depressão
Econômica Mundial (1870-1914) é marcada pelo aumento da produção industrial,
crescimento das cidades, fortalecimento da classe operária, especulação
financeira e queda nos lucros dos industriais por falta de mercados rentáveis,
principalmente nas colônias imperiais.
Em 1914 eclode na Europa a Primeira
Grande Guerra, efeito direto da crise e busca desenfreada por mercados, que
fortaleceu o Imperialismo Colonial, jogou as nações industrializadas em choque
que a diplomacia não conseguiu evitar. Dois blocos que já estavam formados
desde 1910 foram às armas: Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e
Itália) e a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia). Os EUA entram na
guerra em abril de 1917 ao lado da Inglaterra e França, enquanto a Rússia abandona
o conflito em novembro do mesmo ano.
Na quadra em questão, Nostradamus
aponta a longa guerra e as grandes perdas matérias e humanas geradas após o
conflito. Na falta do dinheiro e com ele valendo pouco, torna-se ao escambo, na
troca direta de mercadorias. Em outra passagem, Nostradamus complementa esse
quadro caótico da Primeira Guerra:
III.18
Après la pluye de laict assez longuette,
Em plusieurs lieux de Reims le ciel touché,
O quel conflit de sang près d’eux s’appreste,
Peres et Roys n’oseront
approché.
[Depois de
um período de calma bastante longo, vários lugares ao redor de Reims serão
atingidos pelo céu: Oh, que conflito sangrento se prepara para eles; pais e
filhos, governantes não ousarão se aproximar desses lugares].
Reims, capital do departamento do
Marne, sofreu muito na Primeira Guerra Mundial e é nesse cenário que
Nostradamus antevê o primeiro grande conflito do século XX, com a introdução de
novos armamentos, como o avião, metralhadoras, arame farpado, o carro de
combate (tanque) e o aperfeiçoamento das armas de artilharia, com o uso de
granadas que espalhavam gases venenosos nas trincheiras das duas maiores forças
inimigas, França e Alemanha.
O curioso em Nostradamus é que nas
previsões das três guerras mundiais, ele destaca os períodos econômicos que as
antecedem. Antes de 1914, início da Grande Guerra, o clima era de aparente paz,
principalmente em França. Mas, no dia 2 de agosto, após ter declarado guerra à
Rússia, as tropas alemãs entram no território Francês e iniciam o movimento pelo
flanco, através de Luxemburgo e da Bélgica.
“Na noite de 4 de agosto, enquanto a
maior parte da Europa, ainda sob a tranquila inércia de meio século de paz,
ainda entregue ao gozo tornado habitual de uma abundância, barateza e liberdade
de vida tão largamente generalizadas que nenhum homem vivo jamais as verá de
novo, estava a pensar em suas férias de verão – a pequena aldeia belga de Visé
viu-se em fogo e camponeses estupefatos começaram a ser presos e fuzilados,
porque se alegava ter alguém atirado contra os invasores. Os oficiais que
ordenaram tais atos e os homens que obedeceram a tais ordens, todos se devem
ter sentido tomados de medo ante as estranhas coisas que faziam. A maior parte
deles até então não havia presenciado uma única morte violenta. E eis que
estavam a pôr fogo não a uma aldeia mas ao mundo. O terrível incêndio iria
destruir uma era de conforto, de confiança e de maneiras educadas e decentes na
Europa.” [Wells, V.3, p. 463].
Terminada em 1918, a guerra estende
seus efeitos sobre a economia européia por uma década. “No campo econômico, os
problemas passam a uma amplitude nunca antes conhecida: a par das crises do
modelo clássico (desemprego, inflação, falências) surgem os problemas
monetários cuja conjunção afetará o funcionamento dos três elementos
definidores do futuro do capitalismo monopolista. A aparente paz do final da
década escondia dos políticos e defensores do modelo neoliberal as mudanças
significativas que a economia produzira e que somente a crise de 29 tornaria
óbvias.” [Franco Júnior & Chacon, p.191].
A consequência disso é a ascensão
dos EUA como potência mundial, que será confirmada após outra terrível guerra,
em 1945, com o aparecimento de dois novos pólos no mundo: EUA e URSS. A título
de curiosidade, esta era a previsão de Napoleão para o futuro do mundo.
9. A crise de 29 e a Segunda Guerra
III.5
Près loing defaut de deux grands luminaires,
Qui surviendra entre l’Avril et Mars:
O quel cherté! Mais deux grands débonnaires
Par terre et mer
secourront touts pars.
[Pouco
tempo depois do fracasso dos dois metais, isso acontecerá em abril e março, que
carestia será conhecida! Mas dois chefes de Estado trarão socorro por terra e
por mar. – Latim, lumen: brilho de um
metal].
O padrão-ouro (Gold Standard) surgiu no final do século XVII, sendo aos poucos
abandonado após a Primeira Guerra e, em definitivo, depois da crise de 1929.
Trata-se de um sistema monetário no qual o valor da moeda de um país é
legalmente definido como uma quantidade fixa de ouro. Cada país fixava o valor
de sua moeda em relação a uma quantidade específica de ouro, sendo a paridade
garantida pela política monetária de compra e venda de ouro. No padrão-ouro, o
banco central de cada país possuía reservas internacionais desse metal e também
em prata, sendo que hoje isso se dá em geral em dólar.
O período que vai de agosto 1929 até
março de 1933 é o que mais marcou a história econômica recente da humanidade,
em especial a crise 1929. “Tal como alguns poetas e políticos, e algumas
mulheres encantadoras, há anos que estão fadados para uma fama que os destaca
da maioria: 1929 é um desses anos”, observou o filósofo e economista
norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006).
A crise financeira tem o mesmo
comportamento de uma crise matrimonial, ninguém sabe ao certo como começa e se
terminar, será, no mínimo, em rusgas e mágoas. De fato, nos meses que a
antecederam, o clima dos investidores era de pura euforia. Desde os banqueiros
aos merceeiros, todos estavam tomados pelo contágio de fazer lucro rápido nas bolsas
de valores. “De 1926 a 1929, o preço médio das ações comuns subiu 300% e os
empréstimos dos corretores que financiavam especulação a curto prazo cerca de
240%.” [Franco Júnior & Chacon, p.205].
Vamos somar à especulação
financeira, crises no setor agrícola, setor imobiliário, construção civil,
escândalos financeiros, falências, e uma inexplicável fé norte-americana num
enriquecimento rápido e fácil por meio do mercado de ações e chegaremos ao
pânico geral do dia 24 de outubro, a “quinta-feira negra”, início da queda em
cadeia de todo o sistema e que tem o seu ponto máximo no dia 29, o mais
devastador na história do mercado de ações. Grandes fortunas simplesmente
evaporaram da noite para o dia e especuladores se suicidaram. O efeito foi
devastador também para os pequenos investidores, pois muitos orçamentos
familiares dependiam do resultado dos investimentos feitos com pequenas
economias. Em março/abril de 1930, havia três milhões de desempregados nos
Estados Unidos. Em outubro, quatro milhões; um ano depois, existiam sete
milhões e, no início de 1933, de 12 milhões a 14 milhões.
É deste período também a pior seca
que se tem notícia na América do Norte e uma enorme tempestade de areia que
atingiu Nova Iorque, vinda do interior do país. Ainda hoje, as fotos e filmes
reais sobre a depressão de 29 mexem negativamente com imaginário americano: um
tempo a ser esquecido, porém sempre lembrado em todas as crises que viriam
depois: pessoas formando fila para tomar sopa nas ruas das grandes cidades.
Dois grandes governantes dos EUA são
apontados como os responsáveis pela recuperação e consolidação econômica do
país após a crise de 29. O primeiro é Franklin Roosevelt nascido na cidade
portuária de Nova Iorque, em 1881, chefe da Marinha de 1912 até 1920 e que exerceu
a presidência dos Estados Unidos de 1933 até 1945, ano de sua morte. “Sua
plataforma econômica, conhecida como New
Deal, representou um marco na passagem do capitalismo clássico, liberal e
concorrencial para o capitalismo monopolista e estatal.” [Franco Júnior &
Chacon, p. 211].
Quando morreu em 1945, Roosevelt foi
sucedido por seu vice, Harry Truman, que nasceu no Missouri, estado do
centro-oeste norte-americano em 1884 e faleceu em 1972. Truman iria liderar o
país que sairia como a maior potência mundial depois da Segunda Guerra.
Potência financeira, política, e que agora tinha um novo inimigo personificado
nos comunistas soviéticos. Mais adiante trataremos dessa guerra, todos os seus
horrores e efeitos que perduram até os nossos dias. Notem a exatidão da
profecia. Nostradamus aponta a origem desses presidentes “salvadores”, um por
terra e outro por mar.
Os desdobramentos da Grande
Depressão alcançaram praticamente todo o mundo civilizado. Na Europa, que ainda
se recuperava da Primeira Guerra, a crise nas bolsas só veio acrescentar um
pouco mais de munição na nova guerra que se construía nos bastidores políticos.
Em 1931, conforme relata o historiador Herbert Wells, a Europa em geral, a
Alemanha e a Áustria, em particular, se achavam em vésperas de uma completa
bancarrota econômica. Os ovos da serpente estavam prontos para eclodir e trazer
para o mundo o Nazismo e o Fascismo, ódio e destruição entre os povos.
10. A aparente tranquilidade da Guerra Fria
I.91
Les Dieux feront aux
humains apparences,
Ce qu’ils seront autheurs
de grand conflict.
Avant ciel veu serein, espée et lance,
Que vers main gauche sera
plus grand afflict.
[Os mitos
enganarão os homens porque serão a causa de grandes guerras, antes das quais os
homens verão o céu sereno, depois as armas terrestres (espadas) e aéreas
(lanças) serão ainda mais destruidoras para as forças da esquerda].
Por estarmos atentos às crises
econômicas, aqui vamos dar um pequeno salto na história e deixar para estudar
as profecias em relação à Segunda Guerra nos capítulos adiante. Depois da desse
conflito, o mundo passou novamente por um longo período de estabilidade
econômica, os conflitos agora surgiam localizados, como na Coréia (1950-1953) e
Vietnã (1959-1975) dentro do contexto da Guerra Fria que opunha o Ocidente
representado pelos EUA e os países da “Cortina de Ferro”, Rússia e seus satélites,
num constante perigo de guerra nuclear. Também é deste hiato em calma aparente,
a maior ameaça do início da Terceira Guerra Mundial já registrada: a crise dos
mísseis, em Cuba, em outubro de 1962.
No ano anterior, a União Soviética
começara o trabalho para a instalação de mísseis nucleares na ilha de Fidel
Castro. Os mísseis atômicos ficariam apontados para alvos importantes do
território dos EUA. Foram 13 dias de tensão até um entendimento entre os
governos russo de Nikita Krushev (1894-1971) e norte-americano de John F.
Kennedy (1917-1963), que determinou a retirada dos mísseis da ilha. O mito da
democracia ocidental derrotara pela primeira vez o mito socialista oriental.
O regime comunista soviético teria
seu golpe de misericórdia em 1989 com a queda do Muro de Berlim. Porém, o
grande arsenal atômico herdado pela Federação Russa está ativo. Pelo Tratado de
Moscou (2002), a Rússia assumiu o compromisso de reduzir seu arsenal atômico,
que ficaria menor do que as potências ocidentais (EUA, França e Grã-Bretanha),
mas ainda suficiente para explodir o mundo várias vezes.
Depois de 1945 o mundo teve suas
guerras, porém conflitos mundiais não foram registrados, mesmo com as guerras
da Coréia, Vietnã e os conflitos de libertação colonial, houve quem cultivasse
uma forte sensação de que este mundo caminhava para entrar nos eixos
definitivamente.
Nos Estados Unidos, o fenômeno do Baby Boom, com uma alta taxa de natalidade,
preparava uma nova geração que no final da década 60, juntamente com a
juventude européia, iria mudar o comportamento de outras gerações. Mas se
mudaram alguns costumes – na moda, música etc. –, o principal não mudou, o
consumo desenfreado de mercadorias, como se o nosso planeta tivesse recursos e
reservas inesgotáveis para suprir a demanda sempre crescente por
matérias-primas, tendo como matriz energética o petróleo que parecia fluir como
água de um rio eterno.
11. A crise do petróleo
Nesses anos de “paz” do pós-guerra,
aparecem os primeiros sinais de que uma guerra silenciosa começava a ser
travada por aquilo que se escondia nas areias da antiga Pérsia e Arábia. Em
linhas gerais, a crise do petróleo começa em 1956, quando o Egito nacionaliza o
Canal de Suez, principal corredor de escoamento dessa mercadoria para o
Ocidente. Em 1960, é criada a Organização dos Países Produtores de Petróleo
(OPEP) com o objetivo de se ter uma política reguladora de produção e gerar
renda para o desenvolvimento dos países membros por meio do aumento dos
impostos e royalties pela exploração das empresas multinacionais. O grande
momento da crise aconteceu de outubro de 1973 a março de 1974, com o preço do
barril alcançando uma majoração de 400% e que determinou um longo período de
recessão nos EUA e Europa e de resto no mundo todo.
Em Nostradamus encontramos uma
quadra que nos mostra um dos momentos cruciais da grande crise do petróleo que
viria nos anos 1970: a Guerra dos seis dias (5 a 10 de junho de 1967), com a
ocupação de Gaza, Cisjordânia e de Golan por Israel:
III.97
Nouvelle loy terre neuve
occuper,
Vers la Syrie, Iudée et
Palestine:
Le grand Empire barbare
corruer,
Avant que Phebes son
siècle determine.
[Por uma
nova lei, os novos territórios serão ocupados na direção da Síria, da Judéia e
da Palestina. O poder árabe desabará antes do Solstício de Verão (21 de junho).
– Latim: corruo, caio, desabo; Febe: Lua, irmã de Febo, o sol].
Em sete dias de guerra os árabes
tiveram uma derrota acachapante e incontestável diante de Israel, perdendo
territórios e tropas justamente nas áreas e direções previstas por Nostradamus
(Golã, do Sinai, da Faixa de Gaza e da Cisjordânia). No dia 30 de julho de
1967, a Knesset (Parlamento de
Israel) aprovava uma lei anexando Jerusalém Oriental ao território hebreu. Essa
medida foi uma reação israelense às exigências das Nações Unidas, como a
devolução do Sinai ao Egito e bloqueou o processo de paz no Oriente Médio,
elevando o preço do petróleo para patamares nunca antes experimentados.
12. A crise do petróleo de 1979. Queda do xá
Depois da
crise do petróleo de 1973, podemos enumerar uma série de outras crises que
atingiram o mundo capitalista. Em 1979, em meio à Revolução Iraniana, Ayatollah
Khomeini (1902-1989) assume o poder do país e passa a controlar a produção de
petróleo. O valor do barril chegou perto dos US$ 40, a maior cotação naquela
década. Nas seguintes quadras, Nostradamus antecipou o governo dos sacerdotes
depois da queda do xá iraniano Mohamed Reza Pahlevi (1919-1980):
I.70
Pluye faim, guerre en
Perse non cessée,
La foy trop grande trahira le Monarque:
Par la fine em Gaule commencée,
Secret augure pour à um estre parque.
[A
revolução, a fome, a guerra não cessarão na Pérsia; o fanatismo religioso
trairá o xá cujo fim começará na França, por causa de um profeta que estará
vivendo em lugar retirado. – Latim: secretum,
lugar retirado; augur, sacerdote que
prevê o futuro, profeta].
X.21
Par le despit du Roy
soustenant moindre;
Sera meurdry lui présentant les bagues
Le pèrre au fils voulant
noblesse poindre
Fait comme a Perse jadis
feirent les Mages.
[Por causa
do seu desprezo, o xá, em estado de menor resistência, será lesado quando
exibir seu exército, o pai querendo manifestar a nobreza do filho. Depois será
feito na pérsia o que jamais foi feito pelos sacerdotes. – Latim: sustineo, resisto. Origem grega: Mages, mago, sacerdote].
É comum nas Centúrias duas ou mais
quadras dedicadas ao mesmo assunto de grande importância, ou que, pelo que
parece, Nostradamus assim julgava. Com efeito, a queda do xá e o endurecimento
do regime a partir da tomada do poder no Irã, a Pérsia, um dos berços da
civilização, foi a força motora dos grandes conflitos armados do século passado
e neste que há pouco se iniciou.
Khomeini estava exilado em França.
No dia 6 de novembro de 1978, os militares assumem a chefia do governo do Irã,
um país à beira de uma tragédia. No dia 16 de janeiro de 1979, o xá Reza
Pahlevi parte para o Egito. Ele nunca irá concretizar o sonho de ver seu filho
no trono, desejo que havia deixado claro em várias ocasiões e discursos.
Khomeini retorna ao Irã no primeiro dia de fevereiro e três dias depois anuncia
a criação do Conselho Nacional Islâmico. Assim, os sacerdotes, os aiatolás,
farão o que nunca foi feito por eles: governar o país com a declaração da
transformação do Irã numa República Islâmica, no início de abril de 1979.
13. As crises econômicas dos anos 1980 e 90
VII.35
La grande poche viendra plaindre pleurer,
D’avoir esleu: trompez seront em l’aage.
Guière avec eux ne voudra demeurer,
Deceu sera par ceux de son langage.
[Será
lamentada a riqueza perdida e chorarão por eleger (políticos), que se enganarão
de tempos em tempos. Poucos homens os seguirão, todos desiludidos dos seus
discursos. – Francês: poche, bolso].
Em 1982, a crise econômica atinge
novamente a América. Agora num dos países que vivem à sombra da grande economia
norte-americana: o México atola-se numa espiral pantanosa que culmina com a
surpreendente moratória pedida pelo governo, em agosto. O efeito dominó não
demora. Mais de 40 países são obrigados a recorrer ao Fundo Monetário
Internacional (FMI), inclusive o Brasil, que viu a retração de seu Produto
Interno Bruto (PIB) e a inflação ultrapassar os 200%. Nesta época, os
economistas tentam explicar a crise e elaboram planos econômicos mirabolantes
para serem colocados adiante por governos desacreditados. Os planos surgem, mas
falham por fatal de credibilidade dos governos e desconfiança geral da
população dos países em crise.
Mais tarde, em 19 de outubro de
1987, o índice Down Jones da Bolsa de
Nova Iorque sofre a maior queda de sua história em um único dia: 22,6%. A
conjunção de temores com os empréstimos bancários, a desaceleração da economia
e a desvalorização do dólar deixaram em pânico o mercado americano e o temor se
alastrou pela Europa e pelo Japão. O Brasil foi ao solo novamente, quebrou e
suspendeu o pagamento da dívida. Os bancos centrais do mundo todo baixaram as
taxas de juros num remendo de urgência para salvar o sistema financeiro.
Acendia-se, assim, a luz amarela para um mundo que caminhava rapidamente para a
globalização econômica carregando consigo os horrores do perigo do contágio
mundial, e em tempo real, do pânico dos investidores da bolsa nova-iorquina.
Em 1997, um processo de fuga de
capitais e desvalorização cambial entre os chamados Tigres Asiáticos
(Tailândia, Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia e Filipinas) sacode os
mercados internacionais. No ano seguinte, com a crise asiática, a Rússia
declarou calote de sua dívida externa privada de curto prazo. A manobra não
agradou os investidores, que passaram a evitar mercados emergentes. O Brasil
foi afetado, enfrentando forte fuga de dólares. O governo reagiu elevando a
taxa de juros para o patamar estratosféricos de 45% no início de 1999, e
desvalorizando o Real.
14. A crise depois do 11 de setembro de 2001
X.49
Iardin du monde aupres de cité neufue,
Dans le chemin des
montaignes cauees:
Sera saisi et plongé dans la Cuve,
Beuuant par force eaux
soulphre enuenimees.
[Jardim do
mundo, perto da cidade muito nova, no caminho de montanhas ocas, será preso e
submergido na cuba, bebendo pela força águas envenenadas].
Essa é a quadra de Nostradamus que
ganhou fama depois dos ataques terroristas a alvos norte-americanos, no 11 de
setembro de 2001. Existe outra quadra, a I.87, que também se atribui a esse
evento, porém de forma equivocada, como teremos a oportunidade de explicar em
capítulo adiante.
Na quadra em tela, a infâmia do
terror deu ao mundo, ao cidadão comum, uma insegurança nunca antes sentida. De
repente, todos passaram a se sentir alvos potenciais dos desatinos suicidas dos
terroristas. O velho mundo deixou de ser o que era e o mercado financeiro
sentiu o golpe. Na semana dos ataques, o tombo do índice Dow Jones foi um dos piores do século, com os investidores perdendo
mais de oito trilhões de dólares, ou 10% do valor total do mercado de ações.
Uma recessão atingiu os EUA, quando já surgiam as primeiras advertências sobre
os riscos no mercado imobiliário – ou seja, as futuras crises.
Mas, analisemos a quadra de
Nostradamus perante os fatos daquele dia histórico na série de ataques suicidas
coordenada pela Al-Qaeda aos Estados Unidos. Pela manhã, 19 terroristas da
Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros. Os
seqüestradores – comandados à distância por Osama Bin Laden (1957-2011), de
quem falaremos da morte mais adiante – fizeram colidir dois dos aviões contra
as Torres Gêmeas do World Trade Center
em Nova Iorque (a “cidade muito nova” de Nostradamus), matando todos a bordo e
muitos dos que trabalhavam nos edifícios. Ambos os prédios (montanhas ocas)
desmoronaram em duas horas, pelo efeito do fogo provocado pela queima do
combustível (água envenenada) das aeronaves com os seus tanques cheios. Os
aviões ficaram cravados nos andares superiores dos prédios (submergidos na
cuba) destruindo construções vizinhas e causando outros danos. O terceiro avião
de passageiros atingiu o Pentágono, em Arlington, Virgínia, nos arredores de
Washington, D.C. O quarto avião caiu em um campo próximo de Shanksville, na
Pensilvânia. Estima-se o total de mortos nos ataques em 2.996 pessoas, a
maioria civil, incluindo os 19 sequestradores. Algumas bolsas de valores dos
EUA ficaram fechadas no resto da semana seguinte ao ataque e registraram
enormes prejuízos ao reabrir, especialmente nas ações da indústria aérea e
companhias de seguro.
15. A crise que nos alcança
VIII.14
Le grand crédit, d’or
d’argent l’abondance
Aveuglera par libide l’honneur:
Cogneu sera l’adultère l’offence,
Qui parviendra à son
grand deshoneur.
[O
desmedido crédito e a abundância de ouro e prata cegarão os homens desejosos de
honrarias. O pecado da ilusão será conhecido por aquele que chegar à grande
desonra].
Eis aqui uma profecia de Nostradamus
em pleno andamento, enquanto escrevo este livro (hoje, 2 de abril de 2011, um
belo dia de domingo) boa parte do nosso planeta sofre os efeitos da última
crise econômica desencadeada em 2008, mas que tem suas raízes em 2006, com base
nas hipotecas americanas subprime (do
inglês subprime loan ou subprime mortgage), crédito de risco,
concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar
da taxa de juros mais vantajosa. Essa expressão é empregada para designar uma
forma de crédito hipotecário para o setor imobiliário, surgida nos EUA e
destinada a tomadores de empréstimos que representam maior risco. Esse crédito
imobiliário tem como garantia a residência do tomador e, às vezes, está
submetido à emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros.
Com o baixo juro e as boas condições
de financiamento nos EUA, muita gente comprou imóveis e se endividou. A taxa de
juro subiu, a indústria e comércio retraíram e a inadimplência aumentou. Os
bancos que emprestaram dinheiro começam a mostrar o rombo de caixa. Além disso,
o preço dos imóveis caiu e os norte-americanos reduziram o consumo.
Essa crise era previsível, seus
primeiros sinais foram dados pelo menos dois anos antes, com a quebradeira das
instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos
hipotecários de alto risco arrastando vários bancos para uma situação de
insolvência e repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores de todo o
mundo. Em palavras bem simples, um oba-oba do mercado, em que bens duráveis,
casas e automóveis eram vendidos a crédito a pessoas sem comprovação de renda,
ou bom histórico de pagamento, às vezes sem emprego ou patrimônio. Enquanto os
imóveis ganhavam preço, o refinanciamento das dívidas era possível, com o
devedor sempre conseguindo empréstimos maiores para a rolagem da dívida inicial
– o velho “papagaio”, ou “jeitinho” de pagar dívida com mais dívidas. Mas, o
dinheiro não aceita desaforos por muito tempo e a bancarrota do sistema como um
todo veio com a inevitável queda dos preços dos imóveis. Os novos empréstimos,
ou “papagaios” como se diz no Brasil ficaram inviáveis e o efeito dominó disso
refletiu-se primeiro nas financeiras, depois nos bancos, bolsas de valores e
por último em países inteiros.
Como os empréstimos subprime eram dificilmente liquidáveis,
isso é, não geravam nenhum fluxo de caixa para os bancos que os concediam,
esses bancos arquitetaram uma estratégia de securitização desses créditos. Para
diluir o risco dessas operações duvidosas, os bancos americanos credores as juntaram,
e transformaram a massa daí resultante em outros papéis negociáveis no mercado
financeiro internacional, cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas
originais. Assim, criaram-se títulos negociáveis cujo lastro era esses créditos
"podres". Foi a venda e compra, em enormes quantidades, desses
títulos lastreados em hipotecas subprime
o que provocou o alastramento da crise, de origem estadunidense, para os
principais bancos do mundo.
O grande pecado capitalista consiste
na falta de honra dos devedores que enlameiam seus nomes ao não saldarem suas
dívidas, o que causa dúvidas quanto à eficiência do sistema: se o dinheiro não
circula, não produz dividendos, eis a lógica, eis a grande ilusão perdida!
Com seu ápice em 2008, esta crise se
arrasta pelos quatro cantos do planeta. Os EUA se recuperam lentamente, mas
conta ainda com uma taxa de desemprego acima dos dois dígitos, enquanto os
países da Europa clamam por socorro financeiro. Portugal foi o último a sentir
os efeitos desta crise e enquanto escrevia este livro, as últimas notícias
davam conta que, sem medidas para cortar gastos, Portugal caminhava para ser o
terceiro país da Zona do Euro a receber ajuda internacional. Grécia e Irlanda
foram os primeiros, com pacotes exigindo cortes nos gastos públicos e alta de
impostos. Como conseqüência imediata, O primeiro-ministro de Portugal, José
Sócrates, não conseguiu os votos necessários para passar uma nova lei de
austeridade, foi obrigado a apresentar a sua renúncia e convocar eleições
antecipadas.
No dia 4 de maio, Portugal anunciava
um acordo de ajuda com a União Europeia (UE) e com o Fundo Monetário
Internacional (FMI). Um pacote de ajuda externa de 78 bilhões de euros em três
anos. O anúncio foi feito pelo próprio ministro demissionário José Sócrates
junto com duras medidas para conter o déficit e gastos do país. Porém, o acordo
não havia sido confirmado pelas outras partes envolvidas.
16. Decadência: fim da sociedade de consumo
E aqui está o momento que
aguardávamos depois desta longa digressão pelas crises econômicas. Creio que
agora estão dados os elementos e ferramentas para compreendermos o que
Nostradamus prevê para nosso futuro econômico. Para isso, vamos lançar mão de
três quadras das Centúrias. A primeira já foi analisada em parte, vou
repeti-la, porém, acompanhada de duas novas:
VIII.28
Les simulachres d’or et d’argent enflez,
Qu’après le rapt lac au feu furent jettez,
Au descouvert estaincts
tous et troublez,
Au marbre escripts, perscripts interjettez.
[As
representações do ouro e da prata inflacionadas, depois do voo da doce vida,
serão atiradas em um fogo em fúria; esgotados e perturbados pela dívida
pública, os papéis e as moedas serão destruídos].
III.26
Des Roys e Princes dresseront simulachres,
Augures, creux eslevez aruspices:
Corne victime dorée, et d’azur, d’acres
Interpretez seront les exstipices.
[Os chefes
de Estado e de governos fabricarão imitações (do ouro – moldes de papel moeda);
serão vistos os profetas que farão prognósticos vazios de sentido. A cornucópia
da abundância será vítima e a violência sucederá a paz. As profecias serão
explicadas. – Latim: simulacrum,
imitação; harupex, adivinho, profeta;
extipex: adivinho que lia as
vísceras; acre, agudo, áspero, duro,
violento. Mitologia e francês: corne:
corno, chifre e aqui se refere à cornucópia cheia de flores e frutos, símbolos
da riqueza e saúde, que portava a divindade alegórica abundância].
VI.23
Despit de règne nunismes descriés
Et seront peuples esmeus
contre leu Roy:
Paix, fait nouveau,
sainctes loix empirées
RAPIS onc fut en si
tresdur arroy.
[O poder
será desprezado por causa da desvalorização da moeda e o povo se revoltará
contra o chefe de Estado. Será proclamada a paz; por um fato novo as leis
sagradas serão corrompidas. Jamais Paris estará em tamanha desordem – Latim: nomisma: moeda (ouro ou prata). – RAPIS, anagrama de Paris].
Qualquer pessoa que tenha algum
juízo nesse mundo não pode desconsiderar os sinais implícitos de decadência nas
sucessivas crises econômicas pelas quais atravessamos, em intervalos de tempo
cada vez mais curtos e com seus efeitos cada vez mais intensos e globalizados.
E quais são esses sinais? Pela história, e não somente pelas profecias, podemos
inferir tranquilamente que o sistema financeiro está doente e que sua morte é
questão de tempo, por mais que se trate o doente com panacéias fabricadas a
partir da variação das taxas de juros e câmbio, com lastros duvidosos para os
papéis e letras, com ajudas financeiras a esta ou aquela instituição, a este ou
aquele país. Nada tirará nosso doente da UTI. O sistema financeiro sofre dos
grandes males da ganância, do lucro fácil afastado da produção, da riqueza sem
trabalho. Por um curto período, os remédios farão efeito, entretanto governos
serão derrubados, entre eles, um de grande importância, segundo Nostradamus. O
mundo vai ferver em guerras localizadas. A paz será assinada, mas sem pôr fim
ao caos econômico.
Depois do voo da doce vida, da
cornucópia da abundância, da sociedade de consumo, forjada na ilusão dos papéis
sem lastro no trabalho, a desilusão cairá sobre os homens como um gigantesco
meteoro. Os papéis só nos servirão para o fogo, como combustível para nos
proteger do frio e da grande miséria subsequente à falência da sociedade de
consumo, deste modo o doce da vida dos privilegiados será substituído pelo
amargor que condena milhões à fome e ao desespero.
Paris, que aqui representa a União
Européia, estará entregue à baderna e a violência será generalizada. Assim, nesse
quadro de economia caótica, o mundo decadente e inflacionado terá o cenário
para a grande guerra que se avizinha.
Não há como não observar o poder da
clarividência de Nostradamus, ao colocar em suas Centúrias os prognósticos das
crises econômicas como determinantes de conflitos e guerras. Ainda mais,
sabendo-se que tal maneira de encarar a história só aparece entre nós com os
pensadores, historiadores e economistas do final do século XIX e início do
século XX. “Destacamos os marxistas e os institucionalistas. Em ambas as
escolas, critica-se a abordagem pragmática da ciência econômica e propõe-se um
enfoque analítico, em que a Economia interage com os fatos históricos e
sociais. A análise das questões econômicas sem a observação dos fatores
históricos e sociais leva, segundo essas escolas, a uma visão distorcida da realidade”.
[Vasconcellos & Garcia, p. 22].
Em seu quarto de estudo, em algum
inverno da metade dos anos 1500, um médico que não tinha como ocupar suas
noites insones, nos avisava no século XXI, que o modo de organização econômica
será nossa ruína. Talvez ele tivesse visto de relance, ao agitar a bacia de
água com o seu bastão, a obra Karl Marx (1818-1883), que ousou mostrar ao mundo
os pecados capitalistas e revelou o Leviatã no fundo das águas da vaidade de
ter o máximo, de consumir ao infinito, enquanto boa parte dos homens serve a
esse monstro na mais terrível miséria pessoal. Um dia esses homens hão de se
levantar e não mais suportarão encher os cofres da besta. “E o que provoca a
revolução social e política? É simplesmente uma modificação nas ideias humanas?
Não. Pois tais ideias dependem de uma modificação que ocorre primeiramente na
Economia – no modo de produção e troca (de mercadorias)”. [Huberman, p. 180].
Ah, não esqueça, amigo leitor, o dinheiro também
é mercadoria, pois pode ser vendido ou trocado! O que faríamos sabendo agora,
neste momento, que o monte de papéis em nossos bolsos, as moedas e o cartão de
crédito de nada valem? Como comprar pão? Como colocar combustível no carro?
Como viver?
Maravilhoso o artigo e extremante ATUAL.
ResponderExcluirCaramba... ainda em êxtase e digerindo as informações...
Parabéns pelo trabalho!
Nostradamus, o ouro e a prata - Revista Fator Brasil – 03.09.2020 - http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=396793, mais em www.library.com.br/home.
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